A MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA EM PORTUGAL
1. De acordo com os dados do INE, a situação está a melhorar significativamente, embora em 2015 ainda tenha havido 2.295 nascimentos de mães com idades entre os 11 e os 19 anos, o que dá uma média de seis nascimentos por dia. Em 1980, haviam ocorrido quase 18.000 nascimentos;
2. Ainda de acordo com o INE, em 2011 houve 2.274 Interrupções Voluntárias da Gravidez (IVG) de jovens entre os 15 e os 19 anos (11,1% do total em todas as mulheres). Em 2015, as IVG nestas idades baixaram para os 1.708 (10,38%).
3. Dados do estudo Health Behaviour in School-Aged Children revelam que o número de adolescentes de 15 anos que já teve relações sexuais é cada vez menor – passou de 18,2% para 16,1% entre 2006 e 2014 -, mas que os adolescentes sexualmente activos usam menos o preservativo – 25% não usou, em 2014, quando em 2010, só 10% dizia não o fazer.
Para Duarte Vilar, director executivo da Associação para o Planeamento da Família, é preciso considerar que “Portugal tem hoje menos adolescentes do que tinha” por isso, é natural que tenha havido também uma diminuição da maternidade na adolescência. Mas é preciso também não esquecer que “o acesso à informação é mais fácil e existe uma generalização da educação para a saúde nas escolas”, além de que, com os “anos de crise, houve uma preocupação em não engravidar. Os adolescentes acabam por se informar mais”.
Ainda há muitas situações em que “a maternidade na adolescência gera pobreza e abandono, até porque muitas jovens já são originárias de famílias carenciadas e vulneráveis”. A psicóloga Elsa Mota diz: “Só em determinados meios é que uma gravidez aos 16 anos é bem enquadrada, a maioria dos pais não aceita. É mais um bebé para eles.”
Segundo Margarida Gaspar de Matos, a socióloga coordenadora nacional do estudo Health Behaviour in School-Aged Children, “o uso do preservativo baixou, o que faz aumentar o risco de infecções sexualmente transmissíveis, apesar disso não se notar no número de gravidezes na adolescência porque aumentou o uso de outros meios de contracepção como a pílula, disponibilizada nas consultas de planeamento nos centros de saúde.
Uma gravidez precoce tem riscos biológicos e um impacto social mais alargado. “Os jovens “saltam passos” numa trajectória de desenvolvimento pessoal e social, com prejuízo da sua escolarização, do seu convívio entre pares e da vivência da sua própria adolescência”, alerta a socióloga.
O PAPEL DA ESCOLA
Para Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos de Escolas Públicas, “as escolas estão muito sensibilizadas para fazer com que a gravidez na adolescência diminua”, tanto pela acção de “psicólogos, como nas aulas de educação para a cidadania, onde professores, médicos e enfermeiros fazem um trabalho notável”. Além disso, “os pais também têm hoje um diálogo mais aberto e franco sobre esta temática com os filhos”. Mas seria importante que “os professores das diferentes disciplinas tivessem formação” para abordar os mesmos assuntos nas aulas.
FALAR DE SEXO – QUANDO?
Um dos principais desafios que se enfrenta enquanto pai é falar de sexo com os filhos. Não é um assunto fácil e muitos ficam constrangidos e atrapalham-se. Evitam responder directamente aos mais novos, o que ainda lhes desperta mais a curiosidade. Como abordar o tema? Qual a melhor altura para o fazer? O que dizer?
Renato Paiva, director da Clínica de Educação, defende que se deve começar a falar de sexualidade desde cedo. “Os pais devem mostrar-se abertos para a conversa e desde os 4/5 anos ir ao encontro da curiosidade de onde vêm os bebés. Aos 10/11 anos já podemos começar a falar sobre doenças sexualmente transmissíveis e contracepção”, sugere o consultor pedagógico, destacando que o facto de que ficar constrangido não deve ser desculpa para não se falar do assunto.
“Os adolescentes falam de sexo entre si, mas trocam muita informação errada, sobretudo no que toca à saúde e à contracepção. Importa que sejam figuras de referência a abordar o assunto.”
Mas não há um dia certo para o fazer. Nem existe “a grande, única e definitiva conversa” sobre sexo. O assunto deve ser abordado de forma natural. “O sexo é algo natural e também deve ser honesto! Mas é necessário que os pais o façam desde a infância. O desenvolvimento sexual dos nossos filhos é tão natural como o desenvolvimento motor, cognitivo, etc. As conversas sobre sexualidade devem ser frequentes e descontraídas. Porque será que a maior parte dos pais nunca fala sobre o assunto?!”
Já Cristina Valente, autora de “O Que se Passa na Cabeça do meu Adolescente?” refere que estes precisam de saber que “a sexualidade é saudável e bem-vinda, mas que traz também responsabilidades nas tomadas de decisões”. Ou seja, que “o facto de terem impulsos sexuais não significa que estão crescidos e que não precisam de atenções e cuidados”.
Os dados e citações foram retirados, com a devida autorização, dos seguintes artigos publicados no Diário de Notícias:
www.dn.pt/sociedade/interior/liberdade-e-bom-senso-e-o-lema-para-deixar-os-filhos-sair-a-noite-5630716.html
www.dn.pt/sociedade/interior/falar-de-sexo-sim-e-quanto-mais-cedo-melhor-8910903.html
www.dn.pt/sociedade/interior/maes-antes-do-tempo-seis-adolescentes-dao-a-luz-todos-os-dias-em-portugal-5706775.html