Os Desafios Geopolíticos
Em 16 de Março de 1872, José Maria Eça de Queiroz iniciava a sua carreira diplomática, tendo sido nomeado Cônsul de 1ª Classe nas Antilhas Espanholas, hoje Cuba. Segundo José Calvet de Magalhães, diplomata, historiador, tradutor e ensaísta português, as palavras explicitadas no decreto da sua nomeação tinham subjacente uma “reparação intencional da injustiça” de que Eça havia sido alvo por lhe ter sido vedado o acesso àquele cargo nos primeiros anos.
Naquela época, a política de Portugal vivia avanços sociais que fundamentaram a escolha de Eça para o cargo – a abolição da escravatura em 1869, a queda do Governo que proibira as Conferências Democráticas do Casino, no qual Eça esteve presente durante a 4ª conferência em 1871, e a futura fundação do Partido Socialista Português, com o nome de Partido Operário Socialista em 1875.
A sua actividade em Havana seria, contudo, breve e marcada por uma série de controvérsias. Desde o começo que a sua nomeação para aquele não fora bem recebida, sobretudo pelos fazendeiros de Cuba que utilizavam mão-de-obra escrava chinesa, vinda do porto português de Macau, fenómeno ao qual o Cônsul português se viria a opor veementemente. Após três longos meses de espera em Cádis, Eça de Queiroz chegaria a Havana a 20 de Dezembro daquele ano. Durante a sua estadia na colónia espanhola, podemos identificar duas conjunturas com as quais teve de lidar. A primeira, a já referida situação de esclavagismo a que estavam submetidos os imigrantes chineses e cujo estatuto de protecção estava ao abrigo do Consulado de Portugal.
Esta situação exigiu a intervenção diplomática de Eça de Queiroz, cujas intenções viriam a tornar-se controversas para alguns dos seus biógrafos: se por um lado, o consideram um acérrimo defensor dos direitos dos chineses, por outro há quem denote alguma ambiguidade nas suas posições e convicções relacionada com os benefícios e emolumentos que a situação poderia propiciar para o Consulado de Portugal. Porém, ao contrário dos restantes países, que se colocaram à margem do problema (caso da Inglaterra, que se limitou a impedir a saída dos chineses pelo porto de Hong-Kong), o governo português, honra lhe seja prestada, reconheceu os chineses como cidadãos de pleno direito, em igualdade com os restantes emigrantes, provenientes de outras paragens.
A verdade é que, segundo José Calvet de Magalhães, da sua intervenção resultou precisamente a regularização da situação de alguns chineses. Por outro lado, ao chegar a Havana, Eça deparou-se com o impasse da “Guerra dos Dez anos” na tentativa de autonomização da ocupação espanhola em Havana, fenómeno que se abstêm constantemente de referir na sua correspondência.