Entre Ilhas

Amaya Sumpsi, Documentário, Portugal, 76 minutos
Sinopse longa

Era uma vez nove ilhas longínquas, conhecidas como Açores, às quais só se conseguia chegar depois de intermináveis viagens de barco, e das quais só era possível partir quando se perdia o medo de enfrentar a imensidão do mar. É a esse lugar –ora real, ora imaginado, que a cineasta pretende chegar quando embarca na sua peculiar viagem a bordo dos rápidos e modernos ferries que ligam hoje estas ilhas do Atlântico. No seu périplo, encontra velhas histórias de mar, folhas de diários perdidos e fotografias antigas que a hipnotizam: há horizontes repletos de barcos, comandantes e contramestres, há pianos nos salões da primeira classe, gado que viaja junto à terceira e caixeiros viajantes, há militares, muitos estudantes, alguns namoros e tantos enjoos, há nascimentos a bordo e dias de São Vapor, há tempestades e um medo terrível à morte. A cada milha navegada, o lento vagar dos antigos iates e vapores enfeitiça a imagem presente, e do movimento lento das ondas emerge esse outro mundo sensorial em que não há aviões lowcost nem pressa para nada. “Entre Ilhas” sustem o fôlego para imaginar os Açores assim: ilhas centro, ilhas periferia, ilhas isoladas, ilhas cosmopolitas.

Nota da Realizadora

A primeira ideia deste filme nasce em 2016, numa viagem entre as ilhas de São Miguel e do Faial a bordo do navio de passageiros “Express Santorini”. Desde pequena que tenho o hábito de passar horas a observar com atenção o que se passa ao meu redor, imaginando a vida para além de tudo o que consigo ver e ouvir, e projetando um possível fora de campo. Esta longa travessia marítima era de facto perfeita para fazer aquilo que mais gosto: passeando pelo convés ou sentada nos salões do bar, estudava os detalhes dos espaços, contemplava as paisagens, observava os gestos dos corpos e ouvia as conversas dos passageiros, imaginando o resto. O Santorini lembra um love boat em decadência que navega em lentidão, transportando-nos para um ritmo antigo em que, sob o efeito da ondulação do mar, os corpos se vão relaxando e as conversas também. Turistas e locais fazem do barco a sua casa e apropriam-se deste espaço, que uma vez foi luxuoso, para o transformar num acampamento improvisado, com sacos cama e marmitas, rádios e guitarras, cartas e dominós. O barco é de facto um lugar de encontro humano, mas não só. A sua passagem pelas ilhas parece estabelecer uma coreografia que cria uma dança-espetáculo onde a insularidade se sente como em nenhum outro sítio. Quando finalmente cheguei ao Faial sabia já que este seria o meu próximo filme: o feitiço que o Santorini tinha lançado sobre mim só seria desfeito quando conseguisse contar a sua história. Os meus filmes não nascem de lugares, pessoas, ou temas que se possam escolher e planificar à priori, mas sim do deslumbramento emocional e sensorial que certos encontros me produzem. É a partir desta fascinação inicial e repentina por pessoas ou objetos e o mundo que os rodeia que parto para um estado de profunda inquietação cinematográfica, em que a câmara é ao mesmo tempo diário pessoal e caderno de campo etnográfico. É esta dupla condição da pessoa-câmara e um estado de desassossego e sobressalto que me leva a procurar incessantemente respostas e a explorar novos caminhos. De pergunta em pergunta salto do moderno Santorini para os antigos vapores e iates, e entre conversas e fotografias antigas viajo de uma realidade híper-conectada e frenética para um outro mundo antigo, lento e apaziguado. Como toda a etnografia, os meus processos cinematográficos são também lentos e morosos: foram precisos cinco anos de investigação, filmagens e pós-produção para chegar a este “Entre Ilhas”, um filme-viagem entre Madrid, Lisboa e os Açores, entre o presente e o passado e entre o real e o imaginado. Mas todo o encontro precisa do seu tempo, e o que é um filme, se não uma soma de tantos encontros?

Sinopse curta

“Entre Ilhas” é um filme-viagem sensorial pelo arquipélago dos Açores e pelas memórias dos seus habitantes que nos transporta a uma época em que os barcos comandavam a vida deste remoto lugar, pois só a bordo deles é que era possível partir da ilha e voltar a ela. Como era a vida neste recanto do Oceano Atlântico quando o mar era a única estrada possível e o apito do barco o único relógio a marcar a existência de um mundo que nunca tinha sido visto?

Fotos
Trailer