Neste não-documentário, revisitamos a vida de Eunice Muñoz através das memórias privadas da sua casa, observamos o lado humano da actriz, que aqui não representa nenhum papel que não seja o papel de ser quem é ao lado de quem ama. Entramos no museu de memórias que é a sua casa e viajamos pelos últimos oitenta anos, que começaram no velho palco do Teatro Nacional. Observamos a cumplicidade natural entre Lídia e Eunice, vemos como as separam sessenta e dois anos de corpo e nem um único ano de espírito. Abrem-nos as portas à sua intimidade e aos seus rituais domésticos, que poderiam ser prosaicos, mas que se elevam a uma poética que não se filma, porque não se filma a poesia. Convictas de que o teatro é mais real do que a vida, a estas duas actrizes, coube-lhes viver uma mais pura forma de vida, que ultrapassasse todas as verossimilhanças do teatro, defraudando a mentira do cinema, transformando o cinema na mais bela vigarice do mundo. Em epítome, o documentário não existe e é apenas um lugar de memória.