Neste documentário, Cyril Leuthy quer levar-nos além dos clichés de um mito, que por vezes se tornou caricatural, para dar a conhecer um homem mais sentimental do que parece, um homem habitado e, às vezes, ultrapassado pela sua arte. Jean-Luc Godard fez mais de 140 filmes.
O seu trajecto tinha um sentido apenas: a renovação constante da sua arte. “Sou um homem positivo que parte do negativo”, afirmava. A sua aura distinta marcou não apenas os seus filmes que se tornaram lendários, mas também uma figura pública envolta em mistério. Godard via o acto de criação como um gesto necessário de crítica e desconstrução. Ao longo dos anos, reinventou-se, para de seguida destruir tudo e começar de novo, sempre explorando as potencialidades da imagem em movimento. Neste filme, Godard fala sobre Godard, as suas experiências, obsessões e descobertas ao longo de décadas de trabalho constante. Afinal de contas, uma vez escreveu: “Tudo pode ser filmado. Tudo deveria ser filmado.”
O que mais me motiva em Godard é que ele autoriza tudo: liberta os outros cineastas, liberta-os para que se possam atrever a arriscar, a tentar e a desafiar hábitos. Fazer este filme significou explorar um artista que, mais do que muitos outros, tem uma verdadeira fé na sua arte. Para navegar neste oceano de ideias, filmes e arquivos, foi preciso seguir um caminho: permanecer humilde e dar voz às pessoas que o conheciam. O filme é mais sobre o homem do que sobre o seu cinema, mas quando se trata de Godard, o cinema e a vida fundem-se, embora no final, o filme também fale de cinema…
Cyril Leuthy