Infância Adolescência, Juventude

Rúben Gonçalves, Portugal, documentário, 2018, 96’

Estes miúdos sonham em tornar-se bailarinos, e entram numa escola em que, à medida que os anos passam e eles crescem, a sua paixão e aptidão para a dança serão testadas.
Ambientado na Escola de Dança do Conservatório Nacional, o filme lida com três momentos:
A entrada na escola e primeiras aprendizagens; o final do 9.º ano, altura em que os alunos têm de tomar uma decisão e o final do processo de aprendizagem com a saída da escola e a descoberta do palco.

M/12

Tema O ensino artístico

Público-alvo 2.º Ciclo, 3.º Ciclo, Secundário

Áreas Ensino artístico, Dança

NOTA INTENÇÕES DO REALIZADOR
Interessou-me explorar neste filme uma fase que me parece ser muito delicada e determinante no percurso de cada um — a infância, a adolescência, e esse momento de transição de uma para a outra, em que as verdadeiras questões se nos começam a colocar.
Penso que a escola – lugar de aprendizagem, por um lado, e lugar onde surgem as primeiras ligações de amizade, por outro – é sempre um factor decisivo nesse processo. À medida que crescemos, sucedem–se, à nossa frente, professores que continuamente expandem o nosso universo. À medida que crescemos, dizem-nos como devemos pensar e comportar-nos; de certa forma, é um processo em que o nosso carácter se molda, e em que intervêm simultaneamente pais e professores. A aprendizagem da dança, área artística que exige precisão, rigor, bem como uma grande disciplina do corpo, pareceu-me pôr em evidência esta questão — o corpo, à medida que se desenvolve, vai-se moldando, através de um contínuo e intenso trabalho no estúdio, num contexto em que é muito forte a proximidade entre colegas, e entre professor e alunos.

Algo que me intrigou quando estive na presença dos alunos da EDCN foi o facto de tão cedo ser exigida uma determinação quanto àquilo que eles pretendem vir a ser no futuro. Os alunos entram, em geral, para o 5.º ano de escolaridade, e saem no final do ensino secundário. Portanto, num momento em que a maior parte dos miúdos da idade deles ainda só tem algumas ideias vagas, por vezes fantasias, quanto ao que deseja vir a ser “quando for grande”, estes alunos têm de responder já, com assertividade, que o futuro deles estará relacionado com a dança. Ora, isto pareceu-me implicar, desde logo, uma invulgar maturidade. De facto, estes miúdos – e à medida que se vão tornando mais velhos isso só se vai acentuando – têm neles, no modo como agem, uma ideia de peso, de gravidade. Como se o seu destino tivesse sido traçado desde muito cedo, sem que haja outra opção. A dança surge no início do filme como uma intuição (na fase de audições, antes de serem admitidos, os alunos explicam que gostariam de se tornar bailarinos um dia), para, à medida que o filme avança, se tornar uma certeza – aqueles que chegam até ao fim do percurso tornam-se bailarinos, encontraram nisso a sua razão de existir.

Esta ideia de uma decisão tão determinante que é tomada quando ainda somos crianças, e praticamente nos desconhecemos, pareceu-me muito forte; aliada a ela surgiu uma outra, a da importância do ritual. Todos os dias estes alunos se encontram no estúdio para aprenderem o que é a dança, que misteriosas relações se podem estabelecer entre os movimentos do corpo e a música (ou com o silêncio), num trabalho que exige uma disciplina imensa e que almeja o domínio da técnica (a partir do qual eles poderão, então, afirmar a sua individualidade enquanto bailarinos, intérpretes) e a excelência. Esta convivência quotidiana entre os alunos, professores e funcionários que compõem o universo da escola gera um grande sentimento de pertença. Os alunos chegam de manhã cedo e permanecem na escola quase até ao anoitecer – a escola torna-se assim uma segunda casa. Os anos sucedem-se, e nesse caminho que os alunos percorrem há vitórias, derrotas, mágoas, momentos em que as forças (e a convicção) falham. Esses momentos vivem-se em grupo, e esta exposição aos outros nos momentos em que surgimos em toda a nossa fragilidade forma ligações muito poderosas. Ao estar na EDCN, a conviver com estes alunos e professores, tive constantemente a sensação de estar perante um universo cujos segredos só eles conhecem.

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