Em casa de um doente, uma enfermeira executa maquinalmente os gestos de cuidar: ajeita a almofada, segura-lhe o pulso, lava uma ferida. Teresa é enfermeira há mais de quarenta anos num antigo hospital de Lisboa dedicado ao cuidado de doentes com cancro. Veio de uma aldeia no Alentejo com dezasseis anos para Lisboa. no hospital, um médico lê em voz alta o processo de um doente falecido. nome. Data de nascimento. estado civil. profissão. Diário clínico. com o processo na mão, Teresa dirige-se ao arquivo do hospital e deposita o documento numa caixa onde se encontram outros processos. A caixa é esvaziada e cada processo é carimbado com a letra f por uma secretária que de seguida percorre os diversos corredores do arquivo à procura de lugar onde este deve ser arquivado. Teresa de volta ao Alentejo, canta no coro da casa do povo da terra onde nasceu.
Lisboa – Província
Susana Nobre, Ficção, Portugal, 2009, 20'Fotos