Notas de campo surge da necessidade de compreender o período das políticas de austeridade em Portugal, que teve início em 2011. Decorre de uma procura que toma a forma de uma viagem, em que duas mulheres partilham as suas vivências e pensamentos sobre esses anos: como transformaram as suas vidas e as suas visões políticas. Um olhar geracional sobre esse tempo específico, num percurso que se faz rumo ao Sul, desde Portugal ao deserto do Saara – um movimento de afastamento e de respiração.

2011 marca o início das políticas de austeridade em Portugal. Nos anos subsequentes, o país mais pobre da Europa ocidental, vai assistir a: sucessivas subidas de impostos; descidas de salários; cortes nas prestações sociais e aumento do desemprego; que resultaram num empobrecimento generalizado da população.
A realizadora Catarina Botelho, com 30 anos no início do período de austeridade, que duraram oficialmente 5 anos. A sua geração está nessa altura a entrar numa idade em que se imagina que começaria a conquistar alguma estabilidade financeira e laboral. Como a maioria da população portuguesa, vai estar sujeita às grandes transformações sociais que estas políticas implicam. O ambiente social era de depressão, as más notícias preenchiam os jornais e televisão diariamente, e as declarações e políticas governamentais alimentavam um clima de medo que mantinha a população suficientemente calada e quieta.
Notas de Campo é um documentário que surge da necessidade da realizadora de perceber o que aconteceu a si e à sua geração durante estes anos.
Duas das suas amigas próximas da realizadora vão falar-nos do que sentiram e como olham hoje, para este período mais difícil das suas vidas e do país: como estes anos as transformaram a diferentes níveis e contribuíram para mudanças num pensamento político. São reflexões espontâneas, em resposta às perguntas da realizadora, sobre memórias recentes, mas difícil e delicadas, em que pontualmente as participantes parecem verbalizar ou elaborar alguns pensamentos pela primeira vez.
O filme é uma viagem em forma de pesquisa, de reflexão. Que se parte das planícies do Alentejo, rumo ao Sul. Atravessando paisagens cada vez mais seca e desértica, num movimento contínuo que parece acompanhar o fio do pensamento das nossas participantes.