A 27 de fevereiro, chega às salas de cinema portuguesas “Visita de estudo” uma primeira obra bósnia que aborda as complexidades da adolescência feminina numa sociedade patriarcal.
Um retrato ímpar da adolescência e um filme intenso e provocador que marca a estreia na realização de longas-metragens de Una Gunjak. Explorando as complexidades da adolescência feminina numa sociedade marcada pela dualidade entre o passado tradicional e as dinâmicas modernas, a realizadora vem relembrar a sociedade patriarcal que o mais importante é que uma mulher tenha escolhas, apesar de nem todas as escolhas serem feministas.
Inspirado remotamente num caso real que chocou a Bósnia e Herzegovina, a história deste filme acompanha Iman, uma adolescente que acaba por inventar uma gravidez para manter uma mentira criada durante um jogo de “verdade ou consequência”. O que começa como uma busca por validação entre pares, transforma-se num escândalo social que coloca a sexualidade e os valores da sociedade bósnia no centro do debate de uma escola.
Com um elenco que combina atores profissionais e não profissionais, liderado por Asja Zara Lagumdžija, o filme destaca-se por uma abordagem visual crua, mas cuidadosamente trabalhada que privilegia a iluminação natural para captar o contraste entre o ambiente cinzento de Sarajevo e momentos de simples ternura da adolescência.
Utilizando o percurso de Iman, em “Visita de estudo” a realizadora Una Gunjak aborda temas como o patriarcado, a sexualidade e as pressões sociais exercidas sobre as jovens de hoje para questionar os valores e hipocrisias de uma sociedade onde a intimidade individual é inevitavelmente transformada numa questão pública.
Um filme que tem vindo a recolher reconhecimento internacional desde a sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Locarno, incluindo o Prémio de Melhor Realização no Festival de Cinema de Pendance, em Toronto, e as distinções de Melhor Atriz e Melhor Argumento em festivais de cinema na Sérvia e no Montenegro.
Através de um olhar sensível, mas sem concessões, Una Gunjak desafia o público a confrontar os preconceitos que moldam as nossas próprias comunidades, fazendo deste filme uma experiência cinematográfica profundamente relevante.