O que acontece a um ser humano quando todas as suas janelas de perceção são emparedadas de forma irreversível? Agim e Gëzim, dois irmãos gémeos, idênticos, inseparáveis, Surdos, descobrem a iminente cegueira que o destino lhes guarda e constroem uma nova linguagem feita de silêncios opacos.
“Um café e um par de sapatos novos”, o filme co-produzido pela produtora portuguesa Maria & Mayer e pela produtora albanesa ArtLab Film Production com o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual, I. P. (ICA I.P.), realizado por Gentian Koçi e protagonizado pelos atores portugueses Edgar Morais e Rafael Morais, estreia-se nos cinemas a 31 de outubro.
Estamos em Tirana, nos dias de hoje, onde os irmãos, na casa dos trinta anos, vivem juntos debaixo do mesmo teto. Ana, a namorada de Gëzim, uma mulher jovem e enérgica, visita-os com bastante frequência. Uma noite, Agim está a conduzir de regresso a casa com Gëzim, quando fica com a visão turva e quase sofre um acidente fatal. Alguns dias mais tarde, no oftalmologista, descobrem que, em virtude de uma doença genética rara, ficarão cegos de forma progressiva e irreversível.
Uma história baseada em factos verídicos, em que a beleza crua e, por vezes, cruel que há na tristeza, se revela em espaços temporais poéticos. Mergulhando lentamente numa escuridão insuportável, sem serem capazes de ver o mundo ou de se verem um ao outro, e tendo apenas Ana por companhia, diante de um café e de um novo par de sapatos, os dois irmãos veem-se confrontados com uma firme decisão.
A vivência humana condicionada a uma irreversível privação sensorial como nunca antes vista num filme que, em 2023, arrecadou o prémio do público no Festival Internacional de Cinema de Tessalónica, o Prémio de Melhor Realização no Bergamo Film Meeting, os Prémios Golden Sun para Melhor Filme e o Prémio da Associação de Críticos da Macedónia no Festival de Cinema Europeu Cinedays e, ainda, o Prémio de Melhor Ator para os atores portugueses, Edgar Morais e Rafael Morais, no Festival Internacional de Cinema de Pristina.
Nesta alegoria cinemática dos próprios limites do cinema, há uma viagem a travar pela melancolia e por um desconforto que parece terminar apenas quando se tornar em conforto ou, quem sabe, em algo novo por descobrir.
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